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*Mangarataia: quando a Amazônia abraça a moda e a mulher encontra sua própria voz*

Há marcas que nascem de um plano de negócios. E há as que nascem de uma saudade. A Mangarataia brotou como brotam as águas no encontro dos rios: de um abraço entre memórias e futuro, entre a força do Norte e a delicadeza de quem o traz no peito. Com alma brasileira e tempero nortista, a grife fundada por Karina Fontenele fez da moda um idioma para contar histórias — da floresta, das mulheres, de uma cultura que pulsa sem pedir licença.

14/08/2025 às 11h21
Por: Adão Gomes
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Adão Gomes
Adão Gomes

*Mangarataia: quando a Amazônia abraça a moda e a mulher encontra sua própria voz*

Adão Gomes - Jornalista

Há marcas que nascem de um plano de negócios. E há as que nascem de uma saudade. A Mangarataia brotou como brotam as águas no encontro dos rios: de um abraço entre memórias e futuro, entre a força do Norte e a delicadeza de quem o traz no peito. Com alma brasileira e tempero nortista, a grife fundada por Karina Fontenele fez da moda um idioma para contar histórias — da floresta, das mulheres, de uma cultura que pulsa sem pedir licença.

É impossível falar da Mangarataia sem falar de Karina. Estilista de formação impecável — graduada em Moda pela Faculdade Santa Marcelina, com Design e Fotografia pela Escola Panamericana de Arte e ênfase em Moda Praia pelo Instituto Europeu de Design (IED) — ela é, sobretudo, uma artesã de afetos. Paulistana de nascimento e filha de manauara, Karina cresceu entre as chuvas quentes de Manaus, o cheiro de terra molhada, a música espontânea das feiras, a imponência dos rios e a poesia de cada pôr do sol que tingia o céu de cobre. Dali vem sua gramática visual: estamparia autoral que parece pintada com pigmentos de açaí e urucum, cortes que abraçam corpos reais, paleta que celebra a floresta, seus brilhos, sombras e encantarias.

Tudo nela é medida e emoção, pesquisa e intuição. Não por acaso, cada coleção da Mangarataia nasce como quem abre um álbum de família: com delicadeza, reverência e um cuidado radical com a memória. Karina desenha como quem escreve uma carta; cada peça traz a caligrafia do Norte, um bordado de lembrança, um perfume de rio. É um trabalho rigoroso e sensível, contemporâneo e atemporal, que faz da roupa um documento vivo. Em suas mãos, o tecido vira testemunho — de identidade, de pertencimento, de amor.

A coleção Pôr da Alma, coração manifesto da marca, é um recomeço perpétuo. Nela, Karina transforma gratidão em geometria, tempo em textura, luz em linguagem. Os tons quentes lembram tarde de igarapé e a linha do horizonte vista do deck de madeira; as formas levíssimas convidam ao gesto, ao passo descalço, ao vento no rosto. É a identidade da Mangarataia revelada sem pudor: moda como sentimento, como memória que pulsa, como alegria que se derrama no corpo. Quem veste não apenas se enfeita — se encontra.

Em Rita Prossi, Karina estende um tributo à arte que dialoga com a arte. A coleção é encontro de duas potências: a estilista que costura lembranças e a artista que traduz emoções em cor. O resultado é uma celebração que dignifica o feminino em toda a sua vastidão — a coragem, a delicadeza, o riso, a lágrima, a potência de ser muitas em uma só. Karina engrandece o trabalho que admira com uma curadoria amorosa de formas e signos, fazendo da passarela uma galeria onde os olhares se assentam para ouvir o que os tecidos têm a dizer.

E há Paricatuba. A coleção que não apenas veste, mas convoca. Paricatuba é manifesto, testemunho, reparo. Uma ode à história da Amazônia, às ruínas que contam, às mãos que sustentam, à beleza em estado bruto da vila mais charmosa do Amazonas. A Mangarataia se colocou como ponte e parceira: 10% do valor de cada venda é destinado à Associação de Paricatuba, fortalecendo o desenvolvimento econômico, social e turístico da comunidade. Mais do que uma linha de roupas, é um gesto coletivo — e o desfile de lançamento, protagonizado pelas mulheres da vila, foi a cena que selou esse compromisso. A passarela era chão de casa, e cada entrada carregava a dignidade de séculos: sorrisos de quem se reconhece, olhares que diziam obrigada, passos firmes como quem inaugura futuros possíveis.

Ali, em Paricatuba, ficou claro o que a Mangarataia se propõe a ser: um movimento. Moda que devolve, que retribui, que se compromete. Moda que reduz distâncias e eleva pertencimentos. Moda que não explora; que inclui. Moda que entende que sustentabilidade não é selo, é postura. Em parceria com a Tree Earth, a marca compensa as pegadas de carbono de cada coleção com reflorestamento. É do Norte para o mundo, sem abrir mão da responsabilidade com a casa comum. Preservar, para a Mangarataia, é honrar os saberes e o patrimônio amazônico com a mesma seriedade com que se honra uma avó contando causos na varanda ao anoitecer.

A Mangarataia não desenha para cabides; desenha para pessoas. Suas peças, com modelagens originais, foram pensadas para abraçar a diversidade dos corpos. Tamanhos que respeitam curvas e alturas, caimentos que conversam com a vida real, tecidos que respiram junto com quem usa — conforto, qualidade e durabilidade alinhadas a um desejo inequívoco: que mulheres da Região Norte se sintam representadas e que todas as demais se encantem com a cultura que ali se expressa. Não é sobre ditar tendências; é sobre lançar tempo e cuidado, para que cada mulher conte sua própria história ao vestir-se.

Quando uma mulher coloca uma Mangarataia, algo se acende. Há quem veja a sombra das palmeiras no balanço da saia, o brilho da lua nos detalhes de uma alça, a água espelhada do rio no caimento satinado. Há quem sinta, no toque da peça, o afeto que atravessa gerações. A roupa se torna lembrança da infância em Manaus, das viagens de barco, do tambaqui na brasa, da roda de carimbó improvisada depois da chuva. A roupa vira ponte entre o ontem e o amanhã. E é nesse intervalo — entre o toque e a lembrança, entre o espelho e o mundo — que a Mangarataia exerce o seu poder mais raro: o de fazer com que todas se sintam vistas.

Karina, com a sua inteligência estética luminosa e uma liderança terna, conduz a marca com o mesmo zelo que uma mestra ribeirinha conduz uma canoa por um igarapé silencioso. Nada nela é excessivo; tudo é generoso. A pesquisa é vasta, o repertório é sofisticado, o acabamento é primoroso. Mas é o coração que assina a peça final. Há um brilho de profissionalismo impecável em cada coleção e, ao mesmo tempo, um calor caseiro que nenhum algoritmo imita. Ela é, sem exagero, uma das estilistas mais sensíveis e visionárias de sua geração — a artífice que une técnica e ternura, modernidade e raiz, ousadia e respeito.

Na Mangarataia, moda é comportamento, expressão cultural e identidade. É prática concreta de reconhecer e valorizar uma cultura que, por muito tempo, foi reduzida a estereótipos. Aqui, o Norte não é cenário exótico; é protagonista. A floresta não é fantasia; é fundamento. As mulheres não são moldes; são histórias. E cada etiqueta é um convite: vista-se de si, vista-se de nós, vista-se de amor.

É por isso que a Mangarataia é mais do que marca: é gesto, é caminho, é abraço. Um abraço que se traduz no toque dos tecidos, na história por trás de cada estampa, na memória que acorda quando a peça encosta na pele, no carinho que se sente ao olhar o espelho e reconhecer os próprios traços. Um abraço que é também gratidão — à terra, às mulheres, à cultura, ao tempo. Gratidão que se costura ponto a ponto, trazendo para perto quem sempre esteve à margem da narrativa.

E se a pergunta é o que vem depois, a resposta é simples e infinita: vem o que é verdadeiro. Vem a continuidade de projetos que transformam o entorno. Vem o protagonismo de comunidades que ganham voz. Vem a ampliação de uma rede de afeto e impacto, onde cada compra reverbera em educação, turismo, renda e autoestima. Vem uma cadeia cada vez mais responsável, onde materiais são escolhidos com critério e o design respeita a vida útil da peça. Vem mais representatividade, mais diversidade, mais espaço para todas as belezas possíveis.

Talvez seja por isso que, ao final de um desfile da Mangarataia, a sensação não é de fim, mas de começo. Como no instante em que a luz cai sobre as águas e o céu se acende num pôr do sol amazônico, há um silêncio breve antes do aplauso. É o silêncio de quem entendeu que testemunhou algo maior que moda: um compromisso. Uma promessa de que é possível fazer bonito sem deixar ninguém para trás. De que é possível celebrar a cultura sem diminuí-la a ornamento. De que é possível vestir-se de histórias e, com elas, caminhar mais leve.

A Mangarataia é isso: moda, arte e representatividade. É gesto de toque, história, memória, carinho e gratidão. É um chamado para que mulheres do Norte se sintam plenamente representadas — e para que todas as outras se apaixonem, sem reservas, pela riqueza da cultura amazônica. E, no fim, quando a peça encontra a pele e o espelho devolve um sorriso, entende-se que o maior sonho da marca se cumpre em silêncio: ajudar cada mulher a contar a sua própria história, do jeitinho mais autêntico e brasileiro que existe.

Porque o Brasil é maior quando o Norte é ouvido. E a Mangarataia, com sua estamparia autoral, seu cuidado atemporal e sua poesia de beira-rio, é a voz doce e firme que nos chama de volta para casa.

Apoio: Manus IA

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