O Tabuleiro do Amazonas 2026: A Guerra do Asfalto ao Algoritmo
Adão Gomes - Jornalista
Parte I: A Preparação para a Batalha
O Verão que Acelerou o Jogo
Era um dia quente de julho de 2025 em Manaus, o asfalto fervia sob o sol amazônico, mas David Almeida não parava. O prefeito, com a camisa arregaçada, caminhava por obras no bairro da Compensa, fiscalizando o recapeamento de ruas que, meses antes, eram só buracos e poeira. "Aqui é o ritmo: entrega hoje, impacto amanhã", disse ele a um assessor, enquanto tirava uma selfie com trabalhadores para o Instagram. A legenda? "Manaus avança, no asfalto e no futuro!" Postada às 14h, a foto já tinha 12 mil curtidas antes do fim do expediente, segundo o monitoramento do portal Em Tempo. Esse é David Almeida: o político que transformou Manaus em uma plataforma — de obras, de narrativa, de futuro.
O verão de 2025 não foi só calor; foi o momento em que David acelerou. Enquanto adversários faziam reuniões a portas fechadas, ele estava nas ruas, nos feeds, nos grupos de WhatsApp. Em setembro, a cidade se prepara para o maior gol de placa do ano: o #SouManaus – Passo a Paço, festival que completa 10 anos, ocupando o Centro Histórico de 5 a 7 de setembro com atrações nacionais, gastronomia e orgulho local, conforme anunciado pela Prefeitura e pelo G1. Não é só um evento; é um rito cívico-cultural que cristaliza o nome de David como sinônimo de uma Manaus vibrante. Com patrocínio privado aliviando o cofre municipal, o festival é a vitrine de uma gestão que entende o poder da comunicação de massa digital: obra que vira post, post que vira voto.
Mas o jogo de David não se resume à capital. O Amazonas de 2026 não é mais o estado dos feudos físicos, onde o interior era um labirinto de difícil acesso, como nos tempos de Amazonino Mendes. A conectividade mudou tudo. Hoje, deputados estaduais e federais circulam, a Associação dos Prefeitos comanda articulações a partir de Manaus, e o 4G leva a política à palma da mão. David entendeu isso antes dos outros. Sua estratégia é uma engrenagem precisa: máquina municipal na capital, capilaridade digital em todo o estado e uma chapa que pode colocar sua filha, Fernanda Aryel, como vice de Omar Aziz, pedindo voto casado para Marcos Rotta ao Senado. É o plano de um político que joga para dominar o tabuleiro por 30 anos.
O Cenário Nacional: O Senado como Ringue
Para entender o Amazonas de 2026, é preciso olhar para Brasília. O Senado será o epicentro da eleição, com 54 cadeiras em disputa. Conforme ilustrado nos dados que analisam a composição ideológica dos senadores pré-candidatos, a direita se projeta com uma força considerável, representando 51,9% (28 senadores) do total, enquanto o centro detém 31,5% (17) e a esquerda, apenas 16,7% (9). Na região Norte, essa tendência se acentua: a direita representa 57,1% dos pré-candidatos, um reflexo claro do avanço conservador na Amazônia. Nacionalmente, Lula e Bolsonaro já assumiram: 2026 é a "eleição do Senado". O Planalto quer maioria para blindar sua agenda e o STF; a direita busca 41 cadeiras para controlar sabatinas e pressionar a Corte, segundo G1, Valor e Poder360. No Amazonas, esse embate desembarca com nomes, máquinas e narrativas no 220V. Para uma análise visual detalhada sobre a distribuição de forças no Senado.
A Direita em Ascensão: Capitão Alberto e Plínio Valério
Capitão Alberto Neto é a voz mais estridente da base bolsonarista. Ligado ao PL, ele capitaliza o discurso nacional de confronto com o STF e o governo federal. Sua pré-candidatura ao Senado promete ser uma máquina de frames: "contra o sistema", "pelo povo" e "pela liberdade". Plínio Valério, do PSDB, segue na mesma toada, mas com um tom mais institucional. Classificado como centro-direita, ele é vocal contra Lula e Moraes, defendendo pautas como autonomia do Banco Central e segurança pública. Ambos sabem que o Amazonas, com sua inclinação conservadora (57,1% dos senadores pré-candidatos do Norte são de direita), é terreno fértil para esse discurso. A força da direita não vem só da narrativa. Emendas parlamentares, que somaram bilhões nos últimos anos, dão tração a incumbentes como Plínio e a nomes emergentes como Alberto. Segundo a Folha, em 2022, o Amazonas foi um dos estados onde o "orçamento secreto" mais irrigou bases políticas, e a direita soube usar esse combustível. No interior, onde prefeitos e lideranças locais dependem desses recursos, a capilaridade dos bolsonaristas é inegável. Eles não só falam alto; eles entregam.
Eduardo Braga: O Peso do "Lulismo"
Eduardo Braga está no centro do furacão. Ex-governador, senador experiente e nome forte do MDB, ele é o mais citado nas sondagens locais, com recall robusto, segundo portais como Em Tempo e BNC Amazonas. Mas sua proximidade com Lula é uma faca de dois gumes. Em 2022, Braga abriu palanque para o petista no Amazonas, enquanto o PT abdicou de candidatura própria para apoiá-lo, conforme registrado por Amazonas Atual e Revista Oeste. Em 2025, ele reafirmou a aliança, participando de encontros com Lula e declarando que "o palanque do Amazonas está decidido: Lula e Eduardo Braga" (Amazonas Atual). O diretório do MDB amazonense, alinhado a ele, é citado entre os que defendem apoio ao petista em 2026 (O Globo). Essa conexão abre uma avenida para adversários. No Amazonas, onde a direita tem tração cultural e eleitoral, colar Braga a Lula e Alexandre de Moraes é uma estratégia óbvia. A rejeição ao "lulismo" e ao STF, amplificada por narrativas de "judicialização da política", ganha eco em setores conservadores. O relatório CESOP/UNICAMP reforça: a direita domina o Norte (57,1%), e no Amazonas, nomes como Capitão Alberto e Plínio Valério têm munição para explorar esse flanco. Braga, por sua vez, tenta se posicionar(Lulista dizem as fontes) como centro pragmático, focado em emendas e resultados regionais, mas o carimbo "esquerda" pode pesar mais do que ele gostaria.
Marcelo Ramos: O Centro que Tenta Sobreviver
Marcelo Ramos, hoje no PT, é uma das figuras mais intrigantes da disputa. Ex-deputado federal com passagens por partidos como PL e PCdoB, ele se posiciona no centro do espectro ideológico, com um discurso técnico e focado em gestão. Sua pré-candidatura ao Senado aposta em atrair o eleitor que rejeita a polarização, mas sua trajetória de mudanças partidárias pode ser explorada como "inconsistência" por adversários. No Amazonas, onde o centro tem 28,6% dos senadores pré-candidatos, Ramos precisa se diferenciar de Rotta, que tem a máquina municipal de David, e de Braga, que carrega o recall de ex-governador. Sua força está no discurso "nem Lula, nem Bolsonaro", mas, em um estado polarizado, o centro é um terreno escorregadio. Ele representa a esperança de uma terceira via, mas a questão que paira no ar é se haverá oxigênio político para ela prosperar em meio a uma batalha de gigantes.
Marcos Rotta: A Aposta de David Almeida
Marcos Rotta, do Avante, é o cavalo de David no Senado. Secretário da Casa Civil de Manaus, ele carrega a bandeira da gestão: ruas recapeadas, obras entregues, proximidade com o eleitor urbano. Sua pré-candidatura, com aval de David e do presidente do Avante, Luis Tibé (Portal do Holanda, BNC Amazonas), é uma jogada para fatiar votos na capital e emparedar Braga. Rotta não é bolsonarista, mas seu perfil pragmático e municipalista o alinha à centro-direita, com discurso que ressoa no eleitor cansado de ideologia e faminto por resultados. A força de Rotta vem da máquina de David. A Prefeitura de Manaus, com orçamento robusto e visibilidade de obras, é um ativo que nenhum outro pré-candidato tem. O Avante, com deputados estaduais e base municipal, amplifica essa vantagem. Se Aryel for confirmada como vice de Omar Aziz, a chapa ganha um desenho perfeito: Rotta na capital, Aryel no interior, David no comando da narrativa e na capital trabalhando com força. É uma campanha que sincroniza asfalto com algoritmo, obra com post, entrega com voto.
Wilson Lima: O Rei do Tabuleiro
Ninguém pode ignorar Wilson Lima. O governador, reeleito em 2022 com 56,6% dos votos contra Braga (CNN, Folha), é um fenômeno eleitoral. Sua gestão, de direita pragmática, combina mobilidade (circula com facilidade no interior), a poderosa máquina estadual e um discurso que, em 2024, passou a ser "menos radical" (Gazeta do Povo). Ele não está na disputa direta em 2026, mas sua influência é onipresente. Prefeitos, vereadores e lideranças locais orbitam sua esfera, e sua base de direita sustenta nomes como Capitão Alberto e Plínio Valério. Wilson é o fiel da balança: quem tiver seu apoio, ou pelo menos sua neutralidade, ganha um empurrão decisivo. Ele detém o poder de ungir ou vetar, e seu silêncio é tão estratégico quanto suas palavras.
A Ineficiência da Esquerda no Amazonas
No Amazonas, ser de esquerda é remar contra a maré. O PT, apesar da força nacional, não tem musculatura para encabeçar chapas majoritárias no estado. Segundo o relatório CESOP/UNICAMP, a esquerda tem apenas 14,3% dos senadores pré-candidatos no Norte, e no Amazonas, sua presença é via alianças, como a de Braga (MDB) e a suplência na chapa de Omar Aziz (PSD). O partido abriu mão de candidatura própria em 2022 para apoiar Braga, e a estratégia deve se repetir em 2026, conforme O Globo e Amazonas Atual. Mas o "lulismo" é um passivo em um estado onde a direita tem 57,1% dos pré-candidatos ao Senado e um governador conservador com recall robusto. A vinculação a Lula e Alexandre de Moraes é o calcanhar de Aquiles de Braga. Adversários como Capitão Alberto e Plínio Valério já sinalizam que vão explorar isso, conectando-o a pautas nacionais que geram rejeição local, como a "judicialização da política". O PT, por sua vez, depende de suplências e composições com o centro (MDB, PSD, Avante) para marcar presença. Em um estado onde emendas parlamentares e máquinas públicas movem montanhas, a esquerda joga na defensiva.
David Almeida: O Maestro do Asfalto e do Algoritmo
David Almeida não é só um político; é um fenômeno. Sua gestão transformou Manaus em um canteiro de obras visíveis: ruas recapeadas, pontes reformadas, iluminação pública modernizada. Em 2025, ele acelerou, aproveitando o verão para entregar mais. O SouManaus é o ápice: um festival que movimenta turismo, economia criativa e orgulho local, com impacto amplificado nas redes. Segundo a Prefeitura, o evento é bancado com patrocínio privado, o que preserva o orçamento municipal e reforça a narrativa de eficiência. No digital, David é imbatível. Sua "união digital do Amazonas" — um ecossistema de perfis, grupos e influenciadores — leva sua gestão ao interior, onde o isolamento geográfico já não é barreira. A Associação dos Prefeitos, com sede em Manaus, dá capilaridade às suas articulações, e o Avante, com deputados estaduais e base municipal, é o motor político. A estratégia é clara: posicionar Fernanda Aryel como vice de Omar Aziz, que, se eleita, rodará o interior pedindo voto casado para Marcos Rotta. É uma chapa que combina alcance, narrativa e entrega. David não ataca; ele constrói. Sua força está em sincronizar o real e o virtual: obra vira post, post vira engajamento, engajamento vira voto. Enquanto adversários se desgastam em polarizações, ele entrega resultados e projeta influência. Se Aryel e Rotta decolarem, David não só domina 2026, mas planta as sementes para 30 anos de hegemonia.
Parte II: O Confronto Iminente
O Futuro: A Guerra pela Sincronia
O tabuleiro do Amazonas 2026 não é para amadores; é uma arena onde o asfalto e o algoritmo são as armas. De um lado, David Almeida avança com a precisão de um general, sincronizando a máquina de obras da capital com uma infantaria digital que já domina o interior. Do outro, Eduardo Braga se vê em um campo minado, alvo de um bombardeio coordenado. Contra ele, não estão apenas adversários, mas as máquinas de guerra de Wilson Lima e David, o poder de fogo financeiro de seus oponentes e um exército de direita digital pronto para colar nele o selo tóxico do "lulismo" e do STF.
Neste cenário, a pergunta não é mais "quem sincronizar, vence", mas sim "quem sobrevive à sincronia do inimigo?". Braga, com seu recall e experiência, é um veterano de muitas batalhas, mas estará ele preparado para uma guerra em duas frentes, onde o concreto das ruas e os cliques das redes sociais são controlados por seus rivais? Ou assistiremos à consolidação de um novo poder, forjado na aliança entre a gestão municipal e a hegemonia estadual? A eleição de 2026 não será decidida nas urnas, mas na capacidade de aniquilar a narrativa do adversário antes que ela respire. A contagem regressiva para o confronto já começou.
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