Cerco a Eduardo Braga: A Guerra Digital de David Almeida, Wilson Lima e Capitão Alberto Neto Incendeia o Amazonas
Por Adão Gomes
17 de julho de 2025
No xadrez político do Amazonas, o Senado Federal deixou de ser um trono seguro. Com duas vagas em disputa nas eleições de 2026, a corrida se anuncia feroz. Eduardo Braga (MDB), outrora senhor absoluto da cadeira, agora vê sua posição ameaçada por pelo menos cinco pré-candidatos, entre eles três peças que avançam com sede de xeque-mate: o prefeito David Almeida (Avante), o governador Wilson Lima (União Brasil) e o deputado federal Capitão Alberto Neto (PL). Não o dizem abertamente — é claro. Mas as manobras se tornam visíveis, até mesmo para os mais desatentos. Neste tabuleiro, quem aplaude Braga talvez só esteja esperando o momento certo para abatê-lo.
David Almeida: O Prefeito Que Aplaude e Empurra
Reeleito prefeito de Manaus em 2024, David Almeida exibe, publicamente, elogios constantes a Braga. Agradece recursos federais, enaltece a defesa da Zona Franca e exalta o “senador do povo”, como registrado pela Revista Cenarium (outubro de 2024). Mas é difícil ignorar a ironia que permeia esses aplausos: enquanto cumprimenta Braga, posiciona Marcos Rotta, seu ex-vice-prefeito, para sucedê-lo — não na prefeitura, mas no Senado.
Rotta, figura discreta durante anos, agora brilha nas redes. Com vídeos frequentes no Instagram e TikTok, posando como gestor moderno e político experiente, tornou-se o inesperado queridinho digital entre jovens eleitores, público pouco interessado no Senado até então. Curioso: desde quando infraestrutura e asfaltamento seduzem o eleitorado juvenil?
A substituição de Rotta por Renato Junior, o empresário convertido em vice-prefeito, reforça a impressão de uma sucessão planejada. Junior acumula mais de 95 mil seguidores e atua como “rosto jovem” da prefeitura. E, nos bastidores, um movimento ainda mais claro: o irmão do próprio David Almeida, atual Deputado Estadual, Daniel Almeida, surge como pré-candidato a deputado estadual no projeto traçado da reeleição. Uma dinastia política digital se forma — não apenas para dominar a prefeitura, mas para plantar raízes no Legislativo estadual e... no Senado, talvez?
Entre sorrisos e alianças, David Almeida prepara Marcos Rotta como uma lança apontada diretamente contra Braga. E a cada elogio público ao “grande senador”, mais evidente fica sua intenção privada: removê-lo do caminho.
Wilson Lima: O Governador Que Semeia no Interior
Enquanto isso, Wilson Lima segue um roteiro próprio. Reeleito governador em 2022, alimenta ressentimentos discretos contra Braga desde a CPI da Pandemia. No interior, onde Braga tradicionalmente reinava, Lima implementa uma estratégia diferente: usa a máquina estadual para construir seu império digital.
Programas como o “Amazonas Mais Forte” inundam pequenas prefeituras com recursos, ao mesmo tempo em que distribui conectividade via internet satelital, especialmente nas regiões ribeirinhas. E quem narra essas ações? Ele mesmo. Com 434 mil seguidores no Instagram, Lima se apresenta como o “governador do interior conectado”. Suas postagens não vendem obras; vendem presença. E com presença, vem a lembrança eleitoral.
Nos corredores da política amazonense, a especulação circula: Lima estaria preparando uma ofensiva senatorial? Ou contenta-se em usar o interior como moeda de troca para seu aliado Roberto Cidade, em Manaus? Oficialmente, o governador não fala em disputar o Senado — mas age como quem se prepara para isso.
Seria apenas um blefe ou mais um movimento para enfraquecer Braga?
Capitão Alberto Neto: O Bolsonarista que Não Esconde a Fome
Entre todos, Capitão Alberto Neto é o mais transparente: deseja o Senado. Não esconde, não disfarça. Com seus 319 mil seguidores no Instagram, posta diariamente suas rotinas como deputado federal e líder conservador no Amazonas. Sua base é sólida — formada pela direita jovem, bolsonarista raiz, leal ao ex-presidente Jair Bolsonaro.
Em 2024, foi derrotado na disputa pela prefeitura de Manaus, mas sua votação expressiva (45,41%) e o apoio de Michelle Bolsonaro e Amom Mandel solidificaram sua posição. Diferente de Lima e Almeida, Neto não precisa sussurrar seus planos. Em entrevistas e postagens, deixa claro: está construindo uma candidatura ao Senado — e conta com Bolsonaro como padrinho.
Seu discurso de “lei e ordem” é temperado com o projeto do CPAC Brasil 2025, onde, em agosto, trará Donald Trump e Javier Milei para Manaus. Enquanto Braga investe em emendas parlamentares pouco visíveis para a geração Z, Neto vende ideologia, identidade e espetáculo.
Eduardo Braga: O Senador Que Ninguém Assume Enfrentar
E Braga? Oficialmente, ninguém o desafia. Todos o respeitam, todos o elogiam. Mas, nos bastidores, todos o atacam.
Com mais de 123 mil seguidores, Braga investe em reforçar sua imagem digital. Seus vídeos defendendo a BR-319 têm bom alcance no interior, mas parecem envelhecidos diante das estratégias agressivas dos adversários. Suas emendas, distribuídas pelo estado, carecem de marketing geopolítico nas bases do interior do Amazonas. No Amazonas, onde obra invisível não gera voto, o senador corre o risco de ser o homem certo... no tempo errado, com tanta probabilidade de “trairagem”.
Mas um novo trunfo acaba de reposicionar sua narrativa: o recente acordo entre Marina Silva e Renan Calheiros, firmado em 15 de julho de 2025 com aval do presidente Lula, autoriza a retomada das obras da BR-319 sob rígidos critérios ambientais. Esse pacto virou o principal trunfo da campanha de Eduardo Braga ao Senado. Apostando no asfaltamento como símbolo de desenvolvimento sustentável, Braga utiliza o tema como seu mote eleitoral, reforçando sua imagem de articulador político capaz de unir Brasília e Amazônia. Com isso, tenta reposicionar sua imagem como o político do “fazer possível”, contrapondo-se ao discurso digital de seus adversários.
E, ironicamente, quanto mais o elogiam, mais claro fica que desejam vê-lo fora do jogo, comenta a fonte no Portal.
O Jogo Secreto Pelas Duas Vagas
Em 2026, duas vagas estarão em disputa no Senado — um cenário raro que torna o combate ainda mais sangrento. E, embora nenhum dos três adversários de Braga declare oficialmente, o cenário está armado:
Marcos Rotta, manobrado por David Almeida, emerge como a “solução institucional” para uma das cadeiras.
Capitão Alberto Neto mobiliza o bolsonarismo e assume a candidatura sem rodeios.
Wilson Lima mantém o silêncio estratégico, mas suas ações indicam um projeto de longo prazo que pode incluir o Senado.
Braga, o único ocupante atual da cadeira, parece o único a não declarar guerra — mesmo sendo o principal alvo.
Ao lado deles, surgem pelo menos mais dois pré-candidatos já especulados: Plínio Valério e Marcelo Ramos, figuras que não podem ser ignoradas neste cenário.
A Imprensa: O Espelho do Fogo Cruzado
Portais regionais como A Crítica, Portal Manaus Alerta e Revista Cenarium oscilam entre noticiar as ações de Braga e amplificar as denúncias e movimentações de seus adversários. As obras federais, pavimentações e recursos enviados pelo senador recebem menos destaque que as lives policiais de Neto, os reels de Rotta e os posts institucionais de Wilson Lima.
A impressão que se constrói é inequívoca: Braga está isolado. Mas será?
Conclusão: O Amazonas, o Senado e a Brasa Oculta
O Senado, no Amazonas, tornou-se o prêmio oculto de 2026. Braga o defende como quem guarda uma fortaleza — cercada, mas ainda imponente com os fatos recentes de ponto de partida para construir a sonhada BR-319. Marcos Rotta, Capitão Alberto Neto, Wilson Lima e ao menos dois outros pré-candidatos o sitiam — cada um à sua maneira, cada um por seus próprios interesses.
David Almeida sorri ao lado de Braga, mas pavimenta a estrada de Rotta. Wilson Lima não anuncia candidatura, mas inunda o interior de conexões e votos futuros. Neto, mais agressivo, já fincou sua bandeira na corrida.
Braga segue resistindo. Com sua história, suas emendas e sua retórica. Mas, em tempos digitais, será isso suficiente? Ou os “elogios” que hoje recebe não passam de tapinhas no ombro antes da facada política?
Talvez reste a ele mais um trunfo decisivo: suas alianças pessoais — em especial a parceria sólida com o senador Omar Aziz, já anunciado nos bastidores como futuro governador do Amazonas. Se essa previsão se confirmar, o nome de Braga — ou “Dudu”, como é chamado entre aliados — será automaticamente apresentado como o senador preferido da nova gestão e da chapa governista.
A única certeza é que todos querem as duas cadeiras. E fingem que não.
No Amazonas, o Senado é uma fogueira acesa. Quem sentará nela?
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