ARTE QUE GRITA, FLORESTA QUE RESISTE: MANAUS RECEBE MANIFESTO VISUAL DE 27 GUARDIÕES CULTURAIS
Adão Gomes- Jornalista
Exposição 'Arte da Amazônia para o Mundo' transforma shopping de Manaus em santuário simbólico da criação panamazônica
Uma floresta viva não se resume ao verde — ela vibra em vermelhos de resistência, azuis de memória e amarelos de futuro. É essa paleta simbólica que colore a exposição 'Arte da Amazônia para o Mundo', aberta nesta quinta-feira (10), no Piso Castanheiras do Manauara Shopping, em Manaus. A mostra marca os 15 anos da Associação PanAmazônia e transforma o centro comercial em uma galeria de pertencimento, reunindo 70 obras de 27 artistas que vivem — e sentem — a Amazônia em sua pluralidade mais íntima.
O projeto, sob curadoria do artista e gestor cultural Belisário Arce, não é apenas um evento comemorativo. É uma declaração poética e política de que a Amazônia produz arte com densidade ancestral, sofisticação estética e pulsão crítica. São esculturas, pinturas, técnicas mistas e obras digitais que narram, sem filtros, a complexidade amazônica — seu povo, seus encantos, seus lamentos.
"A arte é um caminho potente de desenvolvimento e pertencimento. Essa exposição traduz o que somos em formas e símbolos que o mundo precisa reconhecer", afirma Arce, também fundador da Associação PanAmazônia, que desde 2010 atua como elo entre sociedade civil, iniciativa privada e poder público na defesa de uma Amazônia economicamente ativa, culturalmente altiva e ambientalmente protegida.
Ancestralidade, denúncia e encantamento
Entre os nomes mais impactantes da mostra está o de Homero Amazonas, artista cuja obra ecoa mitologias indígenas e narrativas de resistência. Suas peças são mais do que arte: são manifestações espirituais que redimensionam o olhar sobre os povos originários. "A floresta não é cenário. É sujeito. É território que pensa e reage", defende.
Nailson Novato, com pinceladas que oscilam entre o realismo e o surreal, entrega retratos simbólicos de um povo da floresta que luta para preservar a harmonia com o ambiente, mesmo sob a sombra da degradação. "A arte é também um grito de alerta, uma lembrança visual do que estamos perdendo", diz o artista.
Já Nina Matos, do Pará, ressignifica imagens e memórias amazônicas por meio da arte digital. Seus personagens emergem de arquivos afetivos e imaginários coletivos, tocando em temas como identidade, memória e pertencimento. Ela provoca: "Meus traços são códigos. O espectador é quem decifra."
De Itacoatiara, Nelson Freire combina espiritualidade e crítica ambiental. "Meus quadros falam dos lugares que desapareceram, mas cuja energia ainda sobrevive como luz sobre a tela", explica. Suas obras são lamentos visuais por um território em erosão — mas também acenos de esperança em cada detalhe luminoso.
O impacto visual da exposição também é acentuado pelas criações de Isaías Miliano, artista indígena do povo Patamona (RR), que pinta peixes metálicos em águas contaminadas, numa metáfora afiada sobre a poluição dos rios da Amazônia. "Meu pincel é um gesto de denúncia. É o que chamam de artivismo", afirma. Para ele, a arte deve "fazer o público pensar, doer e agir."
Do centro da floresta ao coração da cidade
A proposta da mostra é simples e profunda: levar a Amazônia para onde ela é muitas vezes ignorada — os centros urbanos, os espaços de consumo, o cotidiano apressado das cidades. Ao ocupar o Manauara Shopping, o projeto rompe a bolha do circuito artístico tradicional e aproxima a floresta dos olhares que talvez nunca tenham pisado nela.
Mais do que visibilidade, a exposição oferece acessibilidade emocional: a entrada é gratuita, e todas as obras estão disponíveis para aquisição. O público tem até o dia 27 de julho para mergulhar nesse universo visual potente, onde cada obra é um espelho, um alerta ou um sussurro.
A floresta em pé, o artista em ação
A força da exposição está em sua multiplicidade. São 27 artistas com visões distintas — e complementares — sobre o que é viver e criar na Amazônia. Da arte digital ao óleo sobre tela, do grafismo ancestral ao realismo mágico, a mostra confirma: não existe uma única Amazônia — há centenas delas, e todas gritam por visibilidade, respeito e proteção.
Ao reunir nomes como Bráulio, Sérgio Cardoso, Francimar Barbosa, João Braga, Teo Braga, Rodney Marques, Sebastião Cândido, J. Carlos, Sol Abecassis, Marcos Castro, Ed Carlos, Gerlan Santos, Jair Jacqmont, entre outros, a mostra funciona como um grande mapa sensorial da produção artística panamazônica.
Cada obra é uma semente. Cada traço é um gesto político. Cada cor, uma declaração de pertencimento.
Mais do que arte: afirmação
A exposição 'Arte da Amazônia para o Mundo' é um convite e um manifesto. Um convite para olhar, sentir, refletir. Um manifesto em defesa do artista como guardião do território simbólico da floresta, e da arte como ferramenta de resistência, transformação e continuidade.
Em tempos de desmatamento, queimadas e erosão cultural, valorizar a arte da Amazônia é também preservar o espírito da floresta em pé. É garantir que as futuras gerações ainda encontrem nela não apenas madeira, mas memória, beleza e sentido.
Iniciativas como esta contam com o apoio fundamental de plataformas que valorizam e divulgam a cultura amazônica. O www.nafesta.com.br e a "Manus IA", através do Portal de Notícias, apoiam todos os eventos culturais que promovem e divulgam a riqueza cultural da Amazônia, fortalecendo o movimento de preservação e difusão das artes regionais.
Serviço
*O que:* Exposição Arte da Amazônia para o Mundo
*Quando:* De 10 a 27 de julho
*Onde:* Piso Castanheiras – Manauara Shopping (zona sul de Manaus)
*Entrada:* Gratuita
*Curadoria:* Belisário Arce
Obras à venda
Assessoria de Imprensa: Yndira Assayag
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