A Bomba-Relógio Previdenciária e o Silêncio Ensurdecedor no Amazonas: Como a Dignidade Roubada dos Idosos Redefinirá as Eleições de 2026

A Bomba-Relógio Previdenciária e o Silêncio Ensurdecedor no Amazonas: Como a Dignidade Roubada dos Idosos Redefinirá as Eleições de 2026

Adão Gomes - Jornalista

Manaus, Amazonas – 5º de junho de 2025. O Brasil avança para o ciclo eleitoral de 2026 sob a sombra de uma crise moral e administrativa que corrói a confiança de milhões: o sistemático desrespeito aos aposentados e pensionistas do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Dois flagelos – o esvaziamento da Revisão da Vida Toda e um megadesfalque superior a R$ 6,3 bilhões em descontos indevidos – não são meros incidentes. São a espoleta de uma bomba-relógio estatística e emocional, com epicentro potencial de devastação política, inclusive, e talvez principalmente, no estado do Amazonas.

I. A Dimensão Verdadeira da Crise: Fatos Irrefutáveis

A nação testemunha, estarrecida, o que só pode ser descrito como um assalto à dignidade de quem construiu o país. A Revisão da Vida Toda, inicialmente uma promessa de justiça previdenciária validada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em 2022, tornou-se um labirinto de reversões e incertezas. A decisão do STF em 2024, revertendo o entendimento anterior por 7x4, suspendeu mais de 140 mil processos, conforme aponta o estudo "A Bomba Estatística do INSS" (Gomes, 2025). O impacto estimado pelo Tribunal de Contas da União (TCU) beira os R$ 480 bilhões, diluídos em décadas, mas o custo imediato é a desesperança de milhares.

Paralelamente, a Operação Sem Desconto, deflagrada em abril de 2025, escancarou um esquema criminoso que lesou 9 milhões de aposentados, desviando R$ 6,3 bilhões através de associações fraudulentas. Com apenas R$ 142 milhões bloqueados até o momento e a Advocacia-Geral da União (AGU) lutando em 15 ações judiciais, a sensação de impunidade e abandono é palpável e justificada. A Controladoria-Geral da União (CGU) foi categórica: ausência total de controle nos convênios do INSS.

Estes não são eventos isolados. São sintomas de uma falha sistêmica profunda, um descaso institucional que tem nome e consequências eleitorais.

II. O Tsunami Eleitoral Silencioso: A Força Incontestável do Eleitorado Maduro

Os números, frios e irrefutáveis, desenham o mapa do poder. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em fevereiro de 2025, registrou 158.616.465 eleitores no Brasil. Deste contingente, 34.160.194 possuem mais de 60 anos, representando 21,54% do eleitorado total (Gomes, 2025). Este bloco, por si só, já seria formidável. Some-se a isso uma taxa de comparecimento superior à média (72% em 2022) e um dado crucial da PNAD Contínua (2024): 81% dos idosos mantêm convivência familiar diária e são consultados em decisões importantes, incluindo o voto. O voto maduro não é apenas um voto; é um multiplicador de consciências. Estarão ligando para seus amigos, vizinho, familiares em sua cidade natal e a cada cidade brasileira, onde tiver ligações pedindo para não votar nos omissos da RVT e INSS.

O estudo "A Bomba Estatística do INSS" projeta cenários de influência que deveriam gelar a espinha de qualquer analista político acomodado:

Considerando que apenas metade dos eleitores idosos engajados (aproximadamente 17 milhões de pessoas, ou 10,77% do total de eleitores acima de 60 anos) decidam influenciar ativamente cinco pessoas de seu círculo, mobilizariam 85 milhões de votos adicionais. Somados aos seus próprios votos, estamos falando de um potencial de 102 milhões de votos – um volume capaz de decidir qualquer eleição majoritária com folga.

Num cenário mais conservador, se 8% dos eleitores idosos (cerca de 12,69 milhões) influenciarem três pessoas cada, mobilizam-se 38 milhões de votos, totalizando 50,76 milhões.

Mesmo que apenas 5% (aproximadamente 7,93 milhões) influenciem três pessoas, o impacto ainda seria de 23,79 milhões de votos mobilizados, somando 31,72 milhões de votos totais.

A conclusão é verdadeira: quem conquistar o respeito e a confiança do eleitorado idoso, conquista a eleição. E esta conquista não virá de promessas vãs, mas de ações concretas e da responsabilização dos omissos.

III. O Grito Ignorado do Amazonas: Um Chamado à Bancada Federal

No Amazonas, estado com mais de 420 mil cidadãos idosos (Gomes, 2025), a omissão da representação política federal diante desta crise previdenciária é, para usar o eufemismo do estudo, "vergonhosa". Até junho de 2025, conforme a análise, nenhum parlamentar federal do Amazonas – deputados ou senadores – apresentou proposta robusta ou sequer emitiu um discurso público contundente sobre a Revisão da Vida Toda ou o escândalo dos descontos indevidos no INSS.

Este silêncio não é apenas político; é um cálculo perigoso. Enquanto milhões de amazonenses idosos e suas famílias sentem na pele o peso do descaso, seus representantes parecem alheios à dimensão da tragédia e, crucialmente, ao poder eleitoral que está sendo negligenciado ou, pior, antagonizado. Governador, vice-governador, deputados federais, senadores do Amazonas: a história está sendo escrita, e o eleitorado maduro possui caneta e memória.

IV. A Urna Como Tribunal: Propostas Mínimas e o Custo da Omissão

Ignorar o impacto da crise do INSS é, como bem define o estudo, "suicídio político". As redes de aposentados estão mobilizadas. A indignação silenciosa transbordou para grupos comunitários, associações de bairro, igrejas e, fundamentalmente, para as redes sociais – o novo palanque popular.

As exigências mínimas são claras e justas (Gomes, 2025):

Reativação imediata da Revisão da Vida Toda com modulação retroativa.

PL de ressarcimento automático aos lesados pelos descontos indevidos.

Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) exclusiva sobre fraudes no INSS.

Transparência nos convênios e fim da adesão automática.

Restituição com correção monetária obrigatória.

Compromisso inequívoco dos candidatos do Amazonas em priorizar estas pautas.

À bancada do Amazonas e a todos os postulantes a cargos eletivos em 2026, o recado é direto: abracem esta causa. Transformem a dor em plataforma, a omissão em ação. Os mais de 34 milhões de eleitores idosos diretos no Brasil, com sua capacidade de influenciar potencialmente 100 milhões de votos, não serão mais ignorados.

A classe política amazonense, em particular, precisa despertar. Continuar se omitindo não é uma opção; é ser atropelado pela maré de indignação. O tempo do silêncio acabou. Para os idosos do Amazonas e de todo o Brasil, a urna de 2026 não será apenas um local de voto. Será um tribunal. E o veredicto para aqueles que lhes viraram as costas será implacável.

O futuro da Previdência Social e, por extensão, o resultado das próximas eleições, dependerá de quem souber ouvir, compreender e, acima de tudo, agir para restaurar a dignidade e a confiança de milhões de brasileiros. O palco está montado. A bomba-relógio previdenciária está armada. E o Amazonas tem um papel crucial a desempenhar neste divisor de águas da história política brasileira.