Rio Preto da Eva Não Pode Esperar Até 2073 para Destravar a Bioeconomia e Regularizar Suas Terras
Adão Gomes-Jornalista
Rio Preto da Eva, uma das joias do interior do Amazonas, enfrenta uma encruzilhada: o município está repleto de oportunidades, mas amarrado por entraves administrativos, políticos e fundiários que não podem esperar décadas para serem resolvidos. A situação do Distrito Agropecuário da Suframa (DAS) é emblemática desse impasse. Criado para fomentar o desenvolvimento regional, o DAS tem sido, para muitos agricultores e empreendedores, mais uma fonte de incertezas do que de progresso.
DAS: Uma Promessa que Virou Desafios
O Distrito Agropecuário da Suframa foi idealizado como uma área estratégica para impulsionar a agricultura e a bioeconomia no Amazonas. Em teoria, o DAS ofereceria incentivos fiscais, segurança jurídica e infraestrutura para transformar municípios como Rio Preto da Eva em polos de produção sustentável. Porém, na prática, a falta de regularização fundiária e de políticas públicas efetivas transformou essa promessa em um pesadelo para muitos moradores e produtores da região.
"Quem vive aqui não sabe o que pode ou não fazer. Não temos título da terra, não conseguimos crédito no banco e estamos limitados a produzir no improviso", desabafa Antônio Silva, agricultor que há 15 anos tenta expandir sua plantação de laranjas. Sem regularização fundiária, muitos produtores ficam à margem do sistema financeiro, sem acesso a financiamentos e investimentos que poderiam alavancar a produção local.
A Bioeconomia Como Alternativa
Com sua rica biodiversidade, Rio Preto da Eva é um território com enorme potencial para a bioeconomia – um modelo de desenvolvimento que aproveita recursos naturais de forma sustentável. O projeto Bioadarpe, prometido como um marco de inovação e geração de 10 mil empregos na região, está diretamente vinculado à área do DAS. Mas, sem a regularização das terras e a infraestrutura necessária, ele permanece como mais uma ideia no papel.
Enquanto isso, iniciativas locais, como o cultivo de abacaxis gigantes e a produção de farinha de mandioca, sobrevivem graças ao esforço dos pequenos agricultores, que operam sem o respaldo do Estado ou de instituições financeiras. "A bioeconomia já acontece aqui, mas é invisível porque não temos apoio", afirma Maria Conceição, presidente de uma cooperativa agrícola local.
O Papel da Suframa e a Urgência de Ações
A Suframa, criada para promover o desenvolvimento regional através de incentivos fiscais e gestão do DAS, é frequentemente apontada como uma entidade desconectada das realidades do interior. "A Suframa não está presente em nossas vidas. A burocracia é absurda, e as promessas de regularização nunca saem do discurso", critica Fausto Moryá, cacique da Aldeia Beija-Flor, que também enfrenta dificuldades para expandir iniciativas culturais e de bioeconomia na região.
Especialistas defendem que a Suframa precisa reformular sua atuação. Além da regularização fundiária, a autarquia deve priorizar investimentos em infraestrutura e incentivar parcerias com a iniciativa privada para destravar o potencial econômico de municípios como Rio Preto da Eva. "Não basta criar o DAS. É preciso que ele funcione, que conecte as pessoas às oportunidades. Se não houver ação agora, 2073 será tarde demais", alerta o economista Carlos Nogueira.
Estrada para o Futuro: A AM-010 e o Desenvolvimento Regional
Outro aspecto crucial para o progresso de Rio Preto da Eva é a revitalização da AM-010, estrada que conecta o município a Manaus. Embora seja um avanço importante, a revitalização só terá impacto significativo se acompanhada de políticas que integrem o DAS às cadeias produtivas regionais. Sem uma infraestrutura de transporte eficiente e acessível, os produtos de Rio Preto continuarão enfrentando dificuldades para chegar aos grandes mercados.
O Chamado à Ação
A regularização fundiária do DAS e o fortalecimento da atuação da Suframa não são apenas desejos da população de Rio Preto da Eva; são necessidades urgentes para garantir que o município tenha condições de competir no cenário econômico regional e global. A bioeconomia, a agricultura e o turismo são caminhos viáveis para o desenvolvimento, mas precisam de suporte político, jurídico e financeiro.
Rio Preto da Eva não pode esperar até 2073 para ver mudanças significativas. O momento de agir é agora, para transformar a realidade de um município que já mostrou ter força e resiliência. Como dizem os pioneiros que abriram as primeiras trilhas do município: "A estrada está aberta, mas o caminho depende de nós."..
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