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Censura ou Proteção? A Luta de Alexandre de Moraes e o Impacto nas Instituições Judiciárias do Brasil

Para o Brasil, os riscos são concretos: Erosão da Autoridade do STF: Se decisões de Moraes forem ignoradas nos EUA, outros atores seguirão o exemplo, minando a efetividade do Judiciário (1, 2). Incentivo à Fugitividade: Criminosos digitais poderão buscar refúgio em países aliados, usando plataformas para continuar ataques. Polarização Exportada: A narrativa de “Moraes versus Liberdade” alimentará teorias conspiratórias locais, aumentando a violência política.

27/02/2025 às 18h46
Por: Adão Gomes
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Censura ou Proteção? A Luta de Alexandre de Moraes e o Impacto nas Instituições Judiciárias do Brasil

Adão Gomes - Jornalista

Em um cenário geopolítico onde extremismos ideológicos se fundem às estratégias jurídico-midiáticas, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes tornou-se o epicentro de uma guerra híbrida. Unidos por narrativas antissistema e um desprezo compartilhado por freios institucionais, atores diversos articulam frentes para deslegitimar o magistrado brasileiro via Estados Unidos: litígios extraterritoriais, projetos de lei punitivistas e campanhas de desinformação transnacional. Este não é apenas um embate jurídico: é um teste de resistência democrática contra o lawfare globalizado.

A Frente Jurídica: Quando Plataformas Digitais Viram Armas de Guerra

Em 25 de fevereiro de 2025, a Justiça da Flórida negou uma liminar da Rumble e da Trump Media – empresa do ex-presidente Donald Trump – que buscavam descumprir decisões de Moraes em território americano. O pedido, porém, revela a arquitetura de um contragolpe jurídico: as empresas alegavam que as ordens do ministro, que determinavam a remoção de perfis disseminando desinformação, violavam a Primeira Emenda americana.

A estratégia é clara: transformar Moraes em um caso símbolo da "censura global", utilizando o sistema legal dos EUA como palco para um embate entre visões opostas de liberdade de expressão. Enquanto o Brasil prioriza o combate a crimes digitais e à desestabilização democrática, os Estados Unidos defendem um quase absolutismo da liberdade de expressão, mesmo que isso proteja discursos de ódio e ataques a instituições. Como observou o professor Carlos Affonso Souza, "há um choque entre culturas jurídicas: de um lado, a preocupação com a integridade eleitoral; de outro, uma visão libertária que ignora contextos nacionais".

A rejeição da liminar não encerrou o caso. A ação principal ainda tramitará nos EUA, alimentando narrativas de "perseguição política" e servindo de combustível para novas investidas legais.

A Frente Legislativa: Projetos de Lei Como Armas de Retaliação

Em 26 de fevereiro, o Comitê Judiciário da Câmara dos Representantes dos EUA aprovou um projeto de lei que, na prática, permitiria barrar Moraes de entrar no país. A proposta, liderada pela congressista María Elvira Salazar (aliada de Trump), foi celebrada como uma "defesa da liberdade de expressão". O texto, porém, é um cavalo de Troia: sob o pretexto de proteger empresas americanas de "ordens censórias estrangeiras", ele cria um mecanismo para punir autoridades judiciais de outros países que, segundo a interpretação unilateral de Washington, "violam direitos constitucionais americanos".

A ironia é grotesca. Enquanto se invoca "soberania" para atacar investigações, promovem-se intervenções legislativas estrangeiras nas decisões do STF. A mensagem é clara: transformar o ministro em inimigo público do "Mundo Livre", criminalizando seu trabalho de defesa da democracia brasileira.

A Frente Político-Midiática: A Máquina de Fake News sem Fronteiras

A terceira frente opera nas sombras das redes sociais. Em 21 de fevereiro, a Rumble – plataforma preferida de extremistas globais por sua política de moderação leniente – foi suspensa no Brasil após descumprir reiteradamente ordens judiciais. A resposta foi imediata: uma campanha internacional retratando Moraes como "ditador digital". O alvo não é apenas o ministro, mas a própria imagem do Brasil, pintado como uma "democracia iliberal" onde juízes "perseguem opositores".

Os números revelam a dimensão da articulação: entre 22 e 26 de fevereiro, as menções a "Moraes" em perfis no X (antigo Twitter) aumentaram significativamente, com grande parte dos posts vinculando-o a termos como "censura" e "comunismo". O tom ecoa a retórica de deslegitimação usada contra juízes em diversos contextos.

O Script Por Trás das Cortinas: Por Que Moraes Virou Alvo?

A obsessão por Moraes não é acidental. Ele personifica elementos considerados intoleráveis:

  1. Jurisdição Efetiva: Como relator de investigações sobre ataques à democracia, Moraes determinou bloqueios de contas, remoção de conteúdos e prisões.
  2. Simbolismo Institucional: Seu perfil técnico o torna um contraponto a figuras que cultuam o "herói populista".
  3. Vulnerabilidade Geopolítica: Ao mirar um juiz brasileiro em solo americano, grupos testam até onde podem exportar sua guerra cultural, criando um manual para futuras interferências.

Há ainda um cálculo estratégico: transformar Moraes no "inimigo comum" que unifica extremistas.

As Implicações: O Que Está em Jogo Para o Brasil e o Mundo

O caso Moraes-Rumble é um precedente perigoso. Se empresas americanas podem ignorar ordens judiciais de outros países, desde que aleguem "violação de liberdades", a soberania jurídica dos países do Sul Global seria esvaziada, substituída por um neocolonialismo digital onde corporações e governos estrangeiros ditam o que é "justiça legítima".

Para o Brasil, os riscos são concretos:

  1. Erosão da Autoridade do STF: Se decisões de Moraes forem ignoradas nos EUA, outros atores seguirão o exemplo, minando a efetividade do Judiciário (1, 2).
  2. Incentivo à Fugitividade: Criminosos digitais poderão buscar refúgio em países aliados, usando plataformas para continuar ataques.
  3. Polarização Exportada: A narrativa de "Moraes versus Liberdade" alimentará teorias conspiratórias locais, aumentando a violência política.

Conclusão: O Brasil na Encruzilhada da Democracia Global

A situação envolvendo Moraes é um sintoma da crise das democracias liberais ante o avanço do autoritarismo pós-moderno. Enquanto Moraes defende instituições sob ataque, seus adversários operam um manual claro:

  1. Juridificar a Política: Transformar disputas ideológicas em batalhas legais, usando cortes estrangeiras como arenas políticas.
  2. Midiatizar o Direito: Converter processos técnicos em espetáculos para redes sociais, onde fatos cedem lugar a emocionalismos.
  3. Globalizar o Conflito: Articular redes transnacionais de pressão.

A resposta brasileira deve ser igualmente multidimensional:

  • No Campo Jurídico: Fortalecer acordos internacionais que protejam a jurisdição nacional contra interferências extraterritoriais abusivas (6).
  • No Campo Político: Expor, em fóruns como a OEA e a ONU, a hipocrisia de projetos de lei que violam a soberania sob o disfarce de "defesa da liberdade".
  • No Campo Societal: Mobilizar a sociedade civil, midiadores independentes e academia para desmontar narrativas falsas e proteger a integridade das instituições.

A lição é clara: quando juízes se tornam alvos, a democracia está em coma. Cabe ao Brasil decidir se será paciente ou médico nesta cirurgia de alto risco (7, 8).


Referências:

  1. https://www.cnnbrasil.com.br/blogs/teo-cury/politica/ala-do-stf-acredita-que-acao-nos-eua-contra-moraes-nao-deve-prosperar/
  2. https://www.gazetadopovo.com.br/republica/escalada-internacional-do-embate-entre-moraes-e-direita-evoca-sancoes-ineditas-ao-juiz/
  3. https://pt.wikipedia.org/wiki/Alexandre_de_Moraes
  4. https://realtime1.com.br/stf-x-rumble-o-conflito-juridico-e-o-futuro-da-internet-no-brasil/
  5. [https://www.ocafezinho.com/2023/06/30/bolsonaro-inelegivel-o-impacto-no-futuro-de-alexandre-de-moraes/](https://www.ocafezinho.com/2023/06/30/bolsonaro-inelegivel-o-impacto-no-futuro-de-al

 

 

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