“E se o Rio Tocantins secar?” Essa pergunta norteou os trabalhos da Exposição Integrada (Expoint) organizada pela Escola Martinho Motta da Silveira, na Folha 27, em Marabá. O tema escolhido foi: “Viver o integrado: Semeando o bem viver na COP 30”.
A programação iniciou na segunda-feira, 9, e segue até sexta, 13, e conta com seminários temáticos organizados por estudantes do 6° ao 9° ano. Nesta quarta-feira, as apresentações foram de alunos do 8° ano, que escolheram abordar o cotidiano dos pescadores que tiram o sustento a partir do Rio Tocantins.
Foram realizadas entrevistas com pescadores, abordando o estilo de vida, cotidiano e o impacto do colapso climático nas vidas, assim como a opinião deles sobre o derrocamento do Pedral do Lourenção e a COP 30, por exemplo.
“A gente vinha para ver outras apresentações e foi entendendo que tem uma importância, que de fato o nosso conhecimento pode levar algo para o futuro e pode mudar a perspectiva de outras pessoas. A gente pode mudar o mundo, o pensar de outras pessoas”, ressalta Priscila Marinho, 15 anos.
A pesquisa realizada por cada turma foi acompanhada de perto pelos professores, que foram a campo junto com os alunos para obter dados e depoimentos para a apresentação do trabalho. A estudante Thainá Oliveira, 13 anos, compartilha sobre como foi conversar com os pescadores sobre o Pedral do Lourenção, por exemplo.
“Essa pesquisa me impactou muito, principalmente na parte do pedral porque a pesquisa dele eu fui lá fazer com os professores. A gente viu como é, também pesquisou muito com os pescadores, que isso impactaria muito na vida deles”, pontua.
O professor de Geografia, Estudos Amazônicos e Robótica, Jean Farias, foi um dos que acompanhou e supervisionou a pesquisa dos estudantes. Ele conta que teve contato com a questão pesqueira de Marabá a partir do trabalho de conclusão do curso na graduação.
“Quando a gente sai do espaço da sala de aula e leva os alunos para o campo, eles se desprendem e começam a gostar muito das questões, principalmente a questão ambiental, que eles vivem, do aquecimento global”, afirma o professor.
A sustentabilidade é um dos valores que fazem parte da filosofia da Escola Martinho Motta, segundo a diretora Cristina Arcanjo. Para ela, o importante é garantir que as ações debatidas junto aos estudantes resultem em ações como as que já foram pensadas para o ambiente escolar como aquário com espécies do Rio Tocantins, horta e cultivo de plantas medicinais.
Todas as abordagens apresentadas pelas turmas foram norteadas pela pergunta “E se o Rio Tocantins secar?”, como explica a diretora.
“A partir dessa provocação cada turma elegeu suas temáticas. Alguns focaram no Rio, outros na cultura, outros nos pescadores. Tiveram diversas temáticas que visaram discutir a questão da justiça climática, mas dentro desse nosso cenário de Marabá e respondendo a essa questão”, explana Cristina Arcanjo.
Durante as apresentações, os alunos aprofundaram questões importantes como os direitos e resistência dos trabalhadores da pesca, os desafios políticos e sociais enfrentados por eles e outras perspectivas como gênero e etnia.
Os trabalhos foram avaliados por uma banca composta por professores e alunos da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa), e educadores sociais e ambientais, que fizeram contribuições com as pesquisas apresentadas.
O intuito foi aproximar os estudantes do universo acadêmico. A professora da Faculdade de Educação do Campo da Unifesspa, Cristiane Cunha, participou da banca. Ela avalia que momentos como esse desperta os alunos para se interessarem pelas temáticas trabalhadas, fazendo com que se estejam mais atentos aos problemas sociais e ambientais da atualidade.
“Isso coloca os alunos como protagonistas do saber e isso é importante porque os alunos estão produzindo o seu próprio saber. E são espaços como esse que favorecem isso. Então, a escola está de parabéns, o corpo docente, a diretoria e os alunos que abraçaram a ideia e arregaçaram as mangas, foram para campo para poder fazer a pesquisa, foram para sala sistematizar junto com os professores e resultou nessa apresentação de um nível excelente, que eles fizeram aqui hoje”, observa a professora.
A Expoint ocorre após a escola realizar exposições temáticas referentes às demais disciplinas. Nesta edição, o foco foi apresentar trabalhos interdisciplinares, integrando as diferentes áreas de conhecimento.
Ao final das apresentações, os alunos apresentaram uma Carta Manifesto:
Carta do Futuro Ancestral – Junho de 2075
(manifesto poético)
A vocês, habitantes do passado, escrevo das florestas que voltaram a crescer, dos rios que
voltaram a cantar,
do tempo que voltou a ter ritmo de semente.
Hoje, o Bem Viver é a nossa lei.
A terra não é propriedade, é parente. O tempo não é lucro, é ciclo.
O futuro deixou de ser progresso cego, e se tornou retorno ao essencial.
Não foi fácil.
Vocês enfrentaram o colapso, fumaça, o concreto, o silêncio. Mas lembraram de ouvir os velhos, de olhar pro céu, de pisar com respeito.
Aprenderam a escutar a floresta, a cidade desacelerou e o espírito das águas foi ouvido.
Hoje, a justiça climática não é discurso: é prática.
O ecocídio foi nomeado crime, e a natureza ganhou cidadania.
E tudo começou quando vocês pararam.
E ouviram.
O futuro é ancestral.
Uma criança do amanhã.
Texto e fotos: Ronaldo Palheta
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