O iFood é Parceiro ou #IFODIOAMAZONAS?
Adão Gomes-Jornalista
No coração do Amazonas, onde o aroma do tacacá e o sabor do tambaqui assado contam histórias de uma cultura rica e pulsante, a gastronomia local enfrenta uma batalha silenciosa – e cruel. De um lado, a Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes) luta incansavelmente para preservar a identidade culinária amazonense, promovendo eventos, capacitações e até a candidatura de Manaus ao prestigiado Selo de Cidade Criativa da Gastronomia da UNESCO. Do outro, o gigante do delivery, iFood, avança como uma força avassaladora, crescendo 60% em pedidos na categoria mercado em 2024, enquanto 64% dos bares e restaurantes do estado amargam prejuízos ou operam no limite do equilíbrio financeiro. A pergunta que ecoa é inevitável: o iFood é um parceiro do Amazonas ou o #IFODIOAMAZONAS, um predador que suga a vitalidade do comércio local?
A realidade nua e crua: o Amazonas está sangrando
Os números não mentem. Em maio de 2025, uma pesquisa da Abrasel revelou que 64% dos estabelecimentos gastronômicos amazonenses não conseguiram lucrar. Desses, 25% registraram prejuízo, e 39% apenas empataram custos e receitas, sobrevivendo por um fio. Enquanto isso, o iFood ostenta um crescimento vertiginoso, com mais de 80% dos pedidos entregues no mesmo dia, conectando consumidores a um marketplace que inclui desde supermercados até pet shops. Mas esse sucesso tem um custo – e quem paga a conta são os restaurantes locais, sufocados por taxas abusivas de até 23% por pedido, margens de lucro cada vez mais apertadas e uma dependência crescente de uma plataforma que opera com a frieza de um algoritmo.
Franco Andrade, atual presidente da Abrasel no Amazonas, não esconde a gravidade da situação: "Os empresários estão lidando com margens cada vez menores, agravadas pelo aumento nos custos dos insumos." Alimentos e bebidas subiram 4,2% em 2025, mas a inflação no setor foi de apenas 1,99%, criando um descompasso que esmaga a rentabilidade. Pior: 41% dos estabelecimentos não conseguem reajustar seus preços para acompanhar a inflação, e 44% acumulam dívidas, principalmente com impostos federais (70%), estaduais (47%) e encargos trabalhistas (38%). Enquanto o iFood celebra recordes, o comércio local afunda em um mar de dívidas e incertezas.
O impacto fiscal: o dinheiro do Amazonas vai para São Paulo
A gastronomia amazonense não é apenas uma expressão cultural; é um pilar econômico que sustenta empregos, famílias e a própria identidade da região. Mas o modelo de negócios do iFood está drenando esse ecossistema. Quando você pede um prato pelo aplicativo, uma fatia significativa do valor – as taxas cobradas pela plataforma – é recolhida na sede da empresa, geralmente em São Paulo. Isso significa que o Imposto Sobre Serviços (ISS), que deveria ficar em Manaus para financiar saúde, educação e infraestrutura, escapa para outro estado. O ICMS, outro tributo essencial, também enfrenta desafios: embora parte dele seja recolhida localmente, o crescimento do delivery digital torna a fiscalização mais complexa, reduzindo o potencial de arrecadação.
O resultado? Menos dinheiro circula no Amazonas. Menos recursos para políticas públicas, menos investimentos em proteção ambiental, menos apoio à economia verde que mantém nossas florestas em pé. Como diz a frase de impacto que ressoa entre os comerciantes locais: "Sem imposto no Amazonas, não há investimento local – e sem investimento, não há floresta em pé." Enquanto o iFood se consolida como um "quase sócio" dos restaurantes, controlando a relação com os clientes e ditando as regras do jogo, o Amazonas perde autonomia, renda e futuro.
Abrasel: a resistência pela alma amazonense
Em meio a esse cenário desolador, a Abrasel emerge como um farol de esperança. Desde 1999, a entidade representa cerca de 400 estabelecimentos no Amazonas, oferecendo capacitações, assessoria jurídica, convênios e eventos que celebram a culinária local. Iniciativas como o festival Brasil Sabor e o Guia de Gastronomia do Amazonas destacam pratos que são verdadeiras obras-primas, do pirarucu ao tucumã, símbolos de uma identidade que não pode ser reduzida a cliques em um aplicativo. A candidatura de Manaus ao Selo de Cidade Criativa da Gastronomia da UNESCO, liderada pela Abrasel em parceria com o Sebrae-AM, é um grito de resistência: um chamado para o mundo reconhecer que a gastronomia amazonense é única, criativa e essencial.
Mas essa luta não é só dos chefs, dos donos de restaurantes ou da Abrasel. É uma luta de todos nós, amazonenses, que carregamos no peito o orgulho de nossa terra. Cada pedido feito diretamente em um restaurante local é um ato de preservação – da nossa cultura, da nossa economia e do nosso futuro.
Por que comprar direto dos restaurantes?
Você fortalece a economia local: Quando você pede diretamente no restaurante, o dinheiro fica no Amazonas. Os impostos recolhidos (ICMS e ISS) voltam para o estado e para Manaus, financiando escolas, hospitais, segurança e projetos de preservação ambiental.
Você salva empregos: Cada real que vai para o restaurante ajuda a manter cozinheiros, garçons, faxineiros e fornecedores locais empregados. O iFood, com suas taxas altas, reduz as margens dos estabelecimentos, forçando cortes de pessoal e até fechamentos.
Você protege nossa cultura: A gastronomia amazonense é mais do que comida; é história, é memória, é identidade. Quando você compra direto, você garante que pratos como o tacacá e o x-caboquinho continuem vivos, em vez de serem substituídos por opções padronizadas de grandes redes.
Você paga menos: Uma pesquisa da Abrasel revelou que pedir pelo iFood pode ser até 17,5% mais caro do que diretamente no restaurante. As taxas da plataforma encarecem o preço final, penalizando o consumidor e o comerciante.
Você faz a diferença para o meio ambiente: O dinheiro que fica no Amazonas financia ações de proteção à floresta, como fiscalização e incentivos à economia sustentável. Cada pedido local é um passo para manter a Amazônia viva.
Um apelo aos amazonenses: #CompreLocal
Amazonense, essa é a hora de agir. O iFood pode ser conveniente, mas sua conveniência tem um preço que pagamos com o suor dos nossos comerciantes, com a perda da nossa arrecadação e com o risco à nossa identidade. O #IFODIOAMAZONAS não é apenas uma hashtag; é um alerta. A plataforma cresce, mas deixa o Amazonas para trás, sugando o valor que deveria ficar aqui, nas mãos de quem faz nossa gastronomia pulsar.
Vamos fazer diferente. Pegue o telefone e ligue para o seu restaurante favorito. Visite aquele boteco que serve o melhor tacacá da cidade. Vá ao mercado e compre direto do produtor local. Cada escolha sua é um voto pela sobrevivência do comércio amazonense, pela preservação da nossa cultura e pela proteção da nossa floresta. Não deixe que o iFood se torne o #IFODIOAMAZONAS definitivo. Compre local, apoie o Amazonas, e juntos vamos manter viva a alma da nossa gastronomia.
Conclusão: o futuro está em nossas mãos
O iFood não é o vilão absoluto, mas também não é o herói que muitos imaginam. Ele impulsiona vendas, sim, mas a que custo? Enquanto a plataforma celebra lucros recordes, 64% dos restaurantes amazonenses lutam para sobreviver. A Abrasel faz sua parte, mas ela não pode vencer sozinha. É preciso um esforço coletivo – de consumidores, comerciantes, entidades e poder público – para criar um modelo mais justo, onde o crescimento do delivery não signifique a asfixia do comércio local.
Amazonense, o poder está com você. Cada pedido direto é um ato de resistência, um tijolo na construção de um Amazonas mais forte, mais justo e mais verde. Vamos mostrar ao iFood que o Amazonas não é apenas um mercado a ser explorado – é uma terra de luta, de sabor e de orgulho. #CompreLocal, porque o futuro da nossa gastronomia, da nossa economia e da nossa floresta depende de nós.
Fontes:
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