Após cinco dias de intensos debates, foi concluída a Oficina de Elaboração do Plano de Gestão da Área de Proteção Ambiental (APA) da Ilha do Combu, em Belém. O documento, considerado um marco para a preservação e o desenvolvimento sustentável da Unidade de Conservação (UC), estabelece diretrizes para ocupação, uso sustentável e proteção do ecossistema local. A construção do Plano contou com a participação ativa de representantes da sociedade civil e de órgãos públicos que integram o Conselho Gestor da APA.
Criada em 1997, a APA da Ilha do Combu aguardava há mais de duas décadas pela formalização do seu Plano de Gestão, essencial para garantir tanto a preservação da biodiversidade quanto a manutenção do modo de vida tradicional das comunidades locais. A iniciativa, coordenada pelo Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade do Pará (Ideflor-Bio), por meio da Diretoria de Gestão e Monitoramento de Unidades de Conservação (DGMUC) e da Comissão de Planos de Manejo (Coplam), estabelece diretrizes de zoneamento da área protegida, regulamenta atividades econômicas e define regras para o turismo sustentável.
Uma conquista histórica
Para os moradores e empreendedores da ilha, a formalização do Plano representa uma conquista aguardada há anos. Izete Costa, a Dona Nena, que há décadas produz chocolate artesanal a partir do cacau de várzea da região, celebrou o avanço.
"Essa elaboração é muito importante para nós, que moramos e vivemos na ilha. É um anseio antigo, e agora conseguimos garantir que a comunidade tradicional continue existindo por muitos anos, preservando esse espaço de onde várias famílias tiram seu sustento", destacou. Ela também ressaltou que o documento trará mais segurança jurídica para os moradores e visitantes, protegendo a área da especulação imobiliária e garantindo o cumprimento das leis ambientais.
A barqueira Jamille Miranda, mestranda em Educação Básica pela Universidade Federal do Pará (UFPA), reforçou a importância do Plano para a permanência das comunidades locais.
“Sem esse documento, a presença dos povos tradicionais na ilha estaria ameaçada. Somos nós, moradores, que conhecemos a realidade e podemos indicar o que é viável ou não para que o Plano esteja alinhado à nossa vivência”, afirmou. Para ela, fazer parte desse momento histórico é motivo de orgulho. "Desde antes do meu nascimento já se lutava por isso. Hoje, com 26 anos, vejo essa etapa final acontecer, e é uma honra contribuir com a melhoria da qualidade de vida na Ilha do Combu", enfatizou.
Diretrizes e impactos do Plano
Com a implementação das diretrizes do Plano de Gestão, a administração da APA da Ilha do Combu será mais estruturada, conforme explica Júlio Meyer, gerente da Região Administrativa de Belém do Ideflor-Bio.
"Esse Plano de Gestão pretende garantir a preservação do ecossistema de várzea, dos açaizais e do modo de vida das comunidades tradicionais. Estamos criando normas e um zoneamento para que o turismo ecológico seja realizado de forma ordenada, assegurando que a comunidade tenha um papel protagonista nas atividades econômicas da ilha", afirmou.
Para Márcia Segtowich, representante da Comissão de Planos de Manejo do Ideflor-Bio, o documento é essencial para a administração da APA.
"Ele define as normas, o ordenamento territorial e os recursos que precisam ser preservados. O processo foi construído de forma participativa, garantindo que as decisões reflitam as necessidades locais", explicou. Segundo ela, apesar dos desafios de conciliar diferentes interesses, a metodologia adotada fortaleceu o envolvimento da sociedade na gestão da UC.
Metodologia e próximos passos
A elaboração do Plano seguiu diretrizes do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), utilizando uma abordagem participativa que envolveu moradores, pesquisadores e representantes de órgãos públicos municipais, estaduais e federais. O objetivo é garantir um modelo de gestão eficiente e sustentável, conciliando a conservação dos recursos naturais com o desenvolvimento econômico responsável.
Para Nilson Pinto, presidente do Ideflor-Bio, a conclusão do Plano de Gestão representa um avanço significativo para a conservação ambiental no Pará.
“Esse documento é fundamental para garantir a proteção dos ecossistemas da Ilha do Combu e, ao mesmo tempo, permitir que as comunidades locais tenham segurança jurídica e possam desenvolver suas atividades de forma sustentável. A parceria entre o poder público e a sociedade civil foi essencial para chegarmos a esse momento histórico”, afirmou.
Com a finalização do Plano, a expectativa é que sua implementação ocorra de forma gradual, com ações de fiscalização, orientação aos moradores e incentivo a práticas sustentáveis. Reconhecida por sua riqueza ambiental e cultural, a APA da Ilha do Combu agora conta com um instrumento capaz de equilibrar preservação e desenvolvimento, garantindo que futuras gerações continuem usufruindo desse território único da Amazônia.
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