No início, eram palavras soltas, rabiscos tímidos em cadernos gastos. Airton Souza é um caso raro de quem escrevia antes mesmo de ser leitor. Segundo ele, as palavras brotavam da necessidade de compreender o mundo. A pobreza, que lhe negou livros na infância, paradoxalmente foi a inspiração para escrevê-los. E, assim, entre as ruas de Marabá e a imaginação grandiosa, nasceu o escritor.
Hoje, Airton Souza é um nome consagrado na literatura regional. O talento dele o levou, recentemente, a conquistar o primeiro lugar no Concurso Internacional de Literatura da União Brasileira de Escritores (UBE), na categoria infantil, dedicada à escritora Stella Leonardos. O livro inédito “A chuvinha que não queria molhar ninguém” garantiu ao escritor marabaense um lugar de destaque no cenário literário, reafirmando a sensibilidade para contar histórias.
O menino que virou Escritor
Escrever sempre foi um instinto para Airton. Aos 12 anos, já rabiscava os primeiros versos. Ainda na adolescência, publicou as primeiras obras. Já são 30 anos de dedicação, um percurso intenso que o levou a construir uma sólida trajetória na literatura. Ao longo desse tempo, publicou cerca de 50 livros, transitando entre a poesia, a literatura infantil e o romance.
Mas o caminho da leitura veio depois. “Eu sou um leitor tardio. Só me tornei um leitor mesmo depois dos 30 anos”, confessa.
Foram pelos livros que Airton compreendeu o mundo, a complexidade da vida, a importância da linguagem como ferramenta de transformação. “Os livros fizeram de mim um outro sujeito, uma outra pessoa”, afirma.
Os primeiros livros de Airton foram todos de poesia. A cidade, a casa, o quintal, as ruas de Marabá: tudo era matéria-prima para os versos. Mas a literatura infantil veio como um chamado inesperado. Embora tenha resistido no início, a narrativa encontrou um caminho natural. “A poesia não dava conta de contar certas histórias. Eu precisava da literatura para mostrar as coisas de maneira mais evidente”, conclui.
Foi assim que surgiu “O diário de aquietar tristeza”, um dos primeiros livros infantis de Airton, que narra a história de um menino ribeirinho, cuja família precisa abandonar a casa por conta da cheia do rio Tocantins. A mudança repentina, a incerteza do novo lar, a dor de deixar para trás aquilo que um dia foi refúgio.
“O livro vinha para contar essa angústia da incerteza, da visão da criança de ver os pais correndo para não perder as coisas e não saber o que vai acontecer ou para onde vai”, revela.
Hoje, Airton já publicou 16 livros infantis. E um deles, “A chuvinha que não queria molhar ninguém”, rendeu-lhe o mais recente reconhecimento.
O Livro Premiado
O que aconteceria se uma chuva, entre tantas, decidisse que não queria molhar ninguém? Mas essa pequena chuvinha tem um propósito: mostrar que a natureza também sente, que há uma conexão sensível entre os elementos naturais e os seres humanos. Uma metáfora delicada sobre a importância de olhar para o meio ambiente com respeito e cuidado.
“A literatura infantil sempre me permitiu abordar questões sociais e ambientais de forma mais acessível. Nós, humanos, esquecemos que a natureza nos observa, nos sente. Esse livro é um convite para repensarmos essa relação”, enfatiza.
O prêmio da União Brasileira de Escritores é um dos mais prestigiados da literatura nacional. A cada dois anos, escritores de todo o Brasil e de outros países submetem obras inéditas, avaliadas por uma comissão de especialistas. Airton já havia vencido esse prêmio em outras categorias – na poesia e no pensamento crítico – mas esta foi a primeira vez que garantiu o primeiro lugar na literatura infantil.
A cerimônia de premiação acontecerá na Academia Brasileira de Letras, no Rio de Janeiro. Mais um reconhecimento para o autor que, ao longo da carreira, acumulou cerca de 180 prêmios literários. Entre eles, destaca-se o Prêmio Sesc de Literatura e a posição de finalista no Prêmio Oceanos, o mais importante da língua portuguesa, com o romance “Eutônio de Carne Estranha”.
Entre Livros e Leitores
Além de escritor, Airton dedica a vida à promoção da leitura. Como atual coordenador da Biblioteca Pública Municipal Orlando Lima Lobo, em Marabá, ele está diariamente envolvido com livros e leitores. “A biblioteca é um espaço de possibilidades, um lugar onde as histórias ganham vida. É emocionante ver crianças e adultos descobrindo o prazer da leitura”, declara.
Seja como autor ou como mediador, Airton Souza segue cumprindo uma missão: transformar vidas por meio das palavras. Do menino que escreveu antes de ler, ao escritor premiado que inspira, a trajetória é mais um exemplo de que a literatura tem o poder de mudar destinos.
Texto: Osvaldo Henriques
Fotos: Igor Leite
The post Cultura: Marabaense Airton Souza é primeiro lugar no Concurso Internacional de Literatura da UBE appeared first on Prefeitura de Marabá - Pa .
Mín. 23° Máx. 27°